Caímos numa emboscada. Quando recentemente nos começamos a deparar, dia após dia, com o brotar do COVID-19, poucos seriam aqueles que, numa fase inicial, não o tomassem como uma realidade distante. Se é certo que são já escassas as dúvidas quanto ao impacto que o vírus está a ter e continuará a tomar nas nossas vidas, destaca-se, acima de tudo, a forma repentina como as conseguiu virar do avesso.
De facto, a globalização tem vindo a acompanhar o desenvolvimento da sociedade, impulsionando a nossa qualidade de vida enquanto lhe confiamos as vantagens de um mercado aberto. Hoje em dia, dada a estreita relação que estabelecemos com o cosmopolitismo, seria irrealista imaginarmo-nos à parte deste fenómeno. Somos, cada vez mais, cidadãos do mundo: partilhamos produção e conhecimento, integramos culturas e fatores produtivos. Como não poderia deixar de ser, partilhamos igualmente os riscos inerentes àquilo que não gostaríamos que fosse globalizado.
Dito isto, são já muitos os que, nos últimos tempos, começam a pôr em causa o mercado livre, reforçando a adesão a políticas protecionistas. Será possível, no entanto, anular as repercussões de um processo tão enraizado na nossa sociedade? A resposta não é clara. Mais claro será, ainda assim, que possamos pelo menos retardar as suas consequências, colocando um travão nesta armadilha à qual estamos confinados.
Quem nos mostra isto mesmo é David Pontes que, através da sua dissertação de mestrado, “O cerco da peste no Porto”, nos dá um conhecimento mais aprofundado do desenrolar da peste bubónica ao longo séc. XIX. Uma epidemia que terá dado os seus primeiros sinais na China, em meados de 1840, acaba por chegar à cidade do Porto em 1899.
Estes dados evidenciam, sobretudo, as diferenças significativas nos níveis de globalização da época quando comparados com os atuais. Se, no séc. XIX, a peste bubónica demorou quase 60 anos a propagar-se até ao Porto, o novo coronavírus não necessitou de mais do que alguns meses para cumprir o mesmo efeito.
Urge, então, a implementação de medidas, pelo menos a nível temporário, que restrinjam a circulação das populações. O que está em causa não passa por anular necessariamente os efeitos da globalização e redução da propagação desta pandemia, mas antes o retardamento das suas consequências.
Estamos, assim, perante um cenário em que nos compete dar um contributo para o alisamento da curva do número de casos de COVID-19, ficando em casa, à medida que nos libertamos desta armadilha que nos atraiçoou. Em jogo, está a capacidade de resposta do Sistema Nacional de Saúde.
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